sábado, maio 02, 2009

Peña Fidel

Penafiel, 1989. A equipa da terra dos irmãos Oliveira fulgurava na Iª Divisão com os seus equipamentos rubro-negros patrocinados pelos pneus Continental. Um patrocínio ajustado: com efeito, as estrelas penafidelenses dessa época provinham dos mais variados continentes, inspiraram gerações de amantes do futebol por todos os continentes e faziam as compras no então novel Continente (obtendo sucessivos descontos em cartão).

Bio, da África Ocidental, era o esteio defensivo que iluminava todo o espaço desde a sua baliza até ao meio-campo, uma zona designada por Biosfera. O seu manancial de cortes e antecipações era tão alargado que até se inventou um termo para as soluções defensivas propiciadas por Bio: a Biodiversidade. Deixou uma legião de seguidores no Estádio 25 de Abril, que constituíram uma vertente da ciência especificamente dedicada ao estudo das suas qualidades defensivas: a Biologia. Foi percursor das Biografias, antologias relativas a personalidades marcantes. E quando se afastou do seu apogeu, entrou na era Biodegradável.

Nilson, por seu turno, tinha um aspecto asiático, mas na verdade era brasileiro. Era defesa, mas a caderneta pensava que era avançado. Ou seja, Nilson confundiu quem estava à sua volta, menos o seu treinador, que amiúde, e para não correr riscos, deixava-o no banco. Viveu à sombra de Bio e das suas próprias orelhas, que o dispensavam de usar qualquer sombrero nas tardes de maior canícula. Possuía uma dentição própria de quem subiu a pulso na vida, mascando cartilagens de animais amazónicos e canas-de-açúcar ao pequeno-almoço.

Na intermediária, o brasileiríssimo Zinho emprestava uma qualidade gourmet ao jogo directo dos penafidelenses. Ele fazia tudo com muito requinte. Zinho não despachava balões em profundidade, fazia passeZinhos recheados de mel. Não corria quilómetros, corria apenas um bocaditoZinho, o suficiente para recuperar a bola apenas com um esforçoZinho. O jogo de Zinho desenvolvia-se num pequeno espaçoZinho e ele gostava de cobrar livreZinhos directos com efeitos de folhas secaZinhas. Tão secaZinhas que os guarda-redes contrários facilmente adivinhavam onde cairia o esférico. “PobreZinho”, desesperavam os adeptos.

Na frente, o furacão paraguaio Amâncio. Amâncio era veneno para as defesas contrárias e um verdadeiro patife da área, algo que, aliás, deriva do seu cabelo decalcado do Átila do "Duarte & Companhia" (no link, podem ver Amâncio e o seu camarada de armas Borges). Amâncio aprendeu a ser letal com os seus parentes índios mas nunca fumou cachimbos da paz. Não; Amâncio estava sempre pelejando contra as defensivas oponentes e coleccionou vários assaltos aos autocarros e comboios que se estacionavam junto às grandes áreas adversárias. Abanou redes por todo o país e muitos ofereceram recompensas para o travar, morto ou vivo, mas sempre em vão.

Por falar em “vão”, eis Djão, moçambicano com cartel em Portugal durante os anos 80. Djão era o vinagre que temperava as belas saladas de Amâncio, constituindo este par a dupla que mais alimentou a fome de golos duriense. Reclamou para si muitos dos méritos ofensivos do Penafiel de então. Dizia, ufano, “este golo teve os marca dos João”, que era o seu verdadeiro nome. Disse “do João” tantas vezes e com tanta insistência que Djão acabou por se tornar o seu nome de guerra. Djamais visto parado no último terço ofensivo, Djão esteve a um passo de alcançar voos maiores na sua prolífera carreira, mas dizem que provocava mau ambiente nos balneários. Tudo porque, alegadamente, libertava gases fétidos capazes de desmoralizar todo o plantel. Djão desculpava-se: “Os culpa não é meu, os culpa é dos feiDjão que comi ao almoço”.

E por fim, o portuguesíssimo Tó Portela. Tó Portela não acalentava esperanças desmedidas, contentava-se em passear pelo país e em testar os bancos de suplentes aos Domingos. Como se pode ver, Tó Portela dispensava calções; ia logo de calças em direcção ao banco e esperava tranquilamente pelo final do jogo. Quando aquecia era sinal que alguma coisa estava mesmo mal. Em jeito de balanço, Tó Portela sente-se bastante orgulhoso da sua carreira, pois foi-lhe reconhecido o seu jeito único para percorrer os metros que separavam o balneário do banco de suplentes. Protagonizar esta aparentemente simples acção com o savoir-faire de Tó Portela não é para qualquer um.

4 comentários:

Gabriel disse...

O grande Zinho que teve a 1 bocadoZinho de levar os tigresZinhos da Costa Verde à Europa e acabou na divisão de HonraZinho!

Sérgio_alj disse...

Visitem o meu blog:

http://geoalj.blogspot.com/

Tudo sobre os New Orleans Hornets, a NBA e o futebol algarvio!!

MIGUEL LOURENÇO PEREIRA disse...

www.emjogo.blogs.sapo.pt

Pedro disse...

Bio e Nilson jogaram mais tarde no Académico de Viseu! Bio, mais tarde licenciou-se em Direito. Obrigado Bebiano Bio.

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